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Como a superexploração dos trabalhadores estadunidenses está se transformando em um grave problema para o futuro do próprio trabalho nos EUA

Nos EUA, apesar do aumento da produtividade e dos lucros da classe patronal, os trabalhadores estão sendo mais explorados do que nunca, colocando o futuro da própria economia estadunidense em risco.

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Enquanto as empresas estão anunciando lucros recordes, os estadunidenses estão trabalhando mais duro do que nunca para tentar receber algum aumento no salário. A taxa de desemprego dos EUA caiu pela metade desde 2010, e há uma projeção de crescimento de 50% da economia até 2020. Apesar desta apresentação positiva, os trabalhadores estão esgotados, insatisfeitos e se sentem mais explorados. Um estudo recente feito pela minha empresa de recursos humanos descobriu que o esgotamento é o responsável por até metade de todos os problemas no ambiente de trabalho. Os funcionários estão trabalhando mais horas, sem receber mais por isso e, como resultado, estão procurando novos empregos. Quase todos os empregadores dos funcionários pesquisados concordam que segurar seus funcionários é uma prioridade, mas a maioria não está investindo em nada para resolver este problema; mesmo ao custo de milhares de dólares gastos na reposição de cada empregado perdido.

A produtividade dos trabalhadores disparou entre 2000 e 2014. Entretanto, salários e benefícios ficaram estagnados. O Economic Policy Institute mostra que a produtividade cresceu 21,6%, embora os salários tenham crescido apenas 1,8% no período. Os funcionários estão usando mais de seu tempo trabalhando, mas o pagamento não está refletindo esse aumento de produtividade.

O antigo horário comercial já não existe mais. E a Gallup estima que o trabalhador assalariado cumpra hoje uma jornada de 47 horas semanais. As novas tecnologias, especialmente os smartphones e demais portáteis pessoais, aumentaram ainda mais a jornada de trabalho, pois espera-se que os funcionários respondam aos assuntos referentes ao trabalho em qualquer hora ou lugar.

Fora do local de trabalho, os empregados estão trabalhando durante os finais de semana e mesmo nas férias. As férias permitem aos trabalhadores recuperar suas forças, para que eles possam elevar sua produtividade ao retornar. O estudo Project: Time Off descobriu que mais da metade dos funcionários deixou de gozar férias em 2015, pois não conseguiram encontrar uma janela para isso devido à alta carga de trabalho [1].

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Além das férias, os funcionários não conseguem tempo sequer para intervalos nos escritórios. Com uma pesquisa junto da Staple Business Advantages, descobrimos que cerca da metade dos empregados se sentem inibidos de levantar de seus postos de trabalho para fazer um intervalo, e quase a metade almoça em suas próprias mesas nos escritórios. Se simplesmente fossem criados horários de intervalos no trabalho, três de quatro trabalhadores dizem que já se sentiriam mais produtivos.

Muitas empresas não percebem o tamanho do impacto que a exaustão causa na vida profissional de um funcionário. Quando perguntamos para os empregadores sobre isso, por exemplo, 67% deles disseram que acreditam que os empregados têm uma vida equilibrada, mesmo que metade de seus funcionários discordem. Estes trabalhadores não têm tempo o suficiente durante a semana para se dedicar à vida pessoal, especialmente quando 64% dos chefes esperam que eles estejam disponíveis durante seus descansos e folgas! Em um novo estudo da Accountemps, aponta-se que a pressão no trabalho aumentou nos últimos cinco anos. Quando os trabalhadores não estão saudáveis, eles naturalmente vão procurar atestados e afastamentos, tornam-se menos produtivos, e, assim, suas equipes inteiras precisam trabalhar por eles também.

As empresas precisam tomar atitudes contra essa crise de exaustão agora, pois, do contrário, pagarão o alto preço da rotatividade. Com a pressão constante para que os trabalhadores façam mais com menos recursos, e mais avanços nas tecnologias móveis, a exaustão de funcionários/empregador apenas se tornará um problema maior. Ao encorajar os funcionários a tirarem folgas e permitindo horários de trabalho flexíveis e o trabalho em casa, além de promover programas de melhoria de qualidade de vida, as empresas podem evitar que a exaustão cause rotatividade e assim poderemos ter uma força de trabalho mais saudável.


Texto original em inglês no QuartzEmployee burnout is becoming a huge problem in the American workforce

Tradução de Lucas Palma

Nota

[1] Nos Estados Unidos, em média, as férias são de apenas 15 dias não-remunerados. Cada categoria ou empresa tem suas próprias regras de férias. No caso do estudo citado, é indicado que os trabalhadores que não pegam as férias também não podem vendê-las (pois não são remuneradas) e nem podem acumular para o próximo ano – elas são simplesmente perdidas.

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