
10 filósofos que farão você repensar sobre o que é política
Com a filosofia podemos perceber que a política, bem diferente da narrativa midiática que a retrata como infindáveis casos de corrupção, faz parte da nossa vida diária e é o que possibilita mudanças na sociedade.
Por sua ênfase nas discussões antropológicas e em torno da realidade política ateniense o historiador da Filosofia, o francês Jean-Pierre Vernant (1914 – 2007), chegou a declarar que a Filosofia é “filha da cidade”, ou seja, havia uma preocupação por parte de tais pensadores em discutir o papel social e coletivo nas ágoras (praças públicas).
Qual tema mais está em nosso cotidiano por mais que ignoramos? Sem dúvida é a política. Como já sentenciava Aristóteles (384 – 322 a.c) em sua “Política”, “o homem é, por natureza, um ser político”. De fato não temos o que duvidar. Na Grécia Antiga, o homem era cidadão quando participava, entre outras coisas, dos assuntos na pólis, da política – decisões da e na Cidade. Aristóteles mostrou-se preocupado com a organização da família e da sociedade civil. Embora algumas de suas posições hoje sejam muito problemáticas, o Estagirita nos legou uma grande contribuição no âmbito político – inclusive na crítica da ‘ciência do adquirir’ (sugere um “meio-termo).
Em Platão (427 – 347 a.c), sua “ideal” formação da Cidade, era um Estado governado por sábios (para ele, os filósofos), como delineou em sua célebre obra “República”. Sua discussão dava em torno do conceito de justiça e para uma sociedade ideal; vários outros temas como: as diferentes formas de governo e as virtudes de seus governantes, tais como a sabedoria, coragem, temperança e justiça.
Porém, à medida que o tempo foi passando, com novas formas de organização da sociedade; governos teocráticos, formação primitiva dos primeiros Estados, etc., a compreensão do que deveria ser a política tomará forma de como é a política. Como é o caso de Nicolau Maquiavel (1469 – 1527), o qual muitos dizem que é o fundador do pensamento político contemporâneo, pois foi o primeiro a pintar os fatos “como realmente são” e não mais “como deveriam ser”.
O presente texto tem caráter introdutório ao assunto. É de extrema importância, em meio às pessoas de má-fé, descompromissadas com a ciência – o saber, etc., elaborar materiais com tais abordagens: conteúdo sério, numa linguagem acessível a todos; e para divulgação entre amigos e familiares.
Estudar política ou fazer política?
Para o filósofo italiano António Gramsci (1891 – 1937), a política é meio pelo qual os cidadãos agem e formam sua consciência; ele concebe o “pensamento crítico” explicitamente: para Gramsci não é – e nem pode – ser “neutro”. O “pensamento crítico” não é um jogo teórico que contrapõe duas teorias duas ideologias, nem é a “ilusão idealista” da teoria, filosofia, cultura e, consequentemente, a educação podem ser “independentes” de sua base “material” histórica. Gramsci entendeu que o pensamento crítico é a investigação contínua e o desvendamento das bases materiais da própria teoria (a filosofia política), isto é, a crítica da utilização ideológica da teoria.
Quando a pergunta do tópico, Paulo Freire (1921 – 1997) – pedagogo e, por muitos também filósofo – foi um dos principais educadores brasileiros (pouco usado aqui e pioneiro em muitos lugares como Finlândia em seu sistema educacional). Ele escreveu: “Não existe um processo educacional neutro. A educação ou funciona como […] o meio através dos quais homens e mulheres lidam crítica e criativamente com a realidade e descobrem como participar da transformação de seu mundo.”.
Assim, não devemos apenas “estudar”, ou seja, apenas receber passivamente aquilo que nos chega – e até imposto – mas, refletir criticamente, ativo, atuante. Estudar de verdade persiste em investigar, mergulhar aquilo que se tem em mãos. Para Freire, entre enquadrar os alunos ou ajudá-los a ser “autônomos” (num sentido vulgarmente utilizado), ele opta pela emancipação. Entre a Educação que reproduz desigualdades e a que as transforma, optou pela transformação.
Portanto, “fazer política” é tarefa social de todos os cidadãos; estudar a política é compreender a realidade a sua volta, estabelecer meios e critérios para a ação. A práxis – teoria junto à ação – que modifica a realidade socialmente legitimada sem reflexão crítica. Só consciente dos paradigmas e problemas conseguiremos algo adiante.
Como começar a estudar filosofia política?
Nos tópicos iniciais, propus um apanhado bem geral e rápido. Não obstante, nos dias de hoje, as pessoas estão enjoadas de “política”, cujos noticiários estão carregados de “escândalos de corrupção”, “imoralidades”, etc. As pessoas ficam de “saco cheio” e veem nos políticos como ‘todos iguais’. A descrença e a passividade – bem como a desorganização – é parte da “desmotivação”. O processo de educação, como não era de esperar por outra coisa, sempre foi precária. As pessoas, tendo que trabalhar exaustivamente para sobreviverem, veem-se desumanizadas, inferiorizadas e “perdidas” em meio ao turbilhão de coisas que lhes causam desânimo e fatalismo, o que as faz acreditar que suas vidas estarão fadadas àquela angústia da corrupção, violência e desamparo.
Porém, como apontou muito bem Karl Marx (1813 – 1883), as ferramentas da alienação social (domínio ideológico de classe): a religião, mídia, música, artes, Direito, etc., tudo para ocultar a luta de classes; a relação entre dominadores e explorados, proprietários e não proprietários. E é o mesmo Marx que salienta que “somente a classe trabalhadora pode emancipá-la do domínio do padre, converter a ciência de instrumento de dominação de classe em uma força popular, converter os próprios homens de ciências de alcoviteiros do preconceito de classe, parasitas estatais ávidos de cargos e aliados do capital em livres agentes do pensamento! A ciência só pode desempenhar seu papel genuíno na República do Trabalho” (Marx – Materiais preparatórios para a obra “A Guerra Civil na França”).
Assim, “por onde começar” é ter em mente a realidade em que vive seus anseios para uma sociabilidade melhor; no desenvolvimento humano sem dominação do ser humano pelo outro é, necessariamente, o que a Filosofia Política tem de propor, fornecer e nortear. A arma da crítica passa pela filosofia crítica! Vale lembrar-se do professor e pai da sociologia brasileira Florestan Fernandes: “Não existe neutralidade possível: ou se deve optar pelos explorados ou pelos exploradores.”.
O texto nos fornece ferramentas para ir além dos clichês e do pensamento acrítico. A ciência se faz com indagações, reflexões, mudanças, acertos e erros. A filosofia – política – tem como fundamento esses assentamentos. Compartilhar ideias, discutir saudavelmente e, mais ainda, trabalhar conjuntamente para a compreensão de mundo e, nesta compreensão, fazer uma atuação orgânica, passa a ser um elemento chave dos estudos e na ação política concreta.
Tais ferramentas consistem em duas práticas fundamentais: 1) mapear assuntos de interesse comum; 2) investigar incansavelmente as teorias, sair de frases prontas, para uma ação coerente. Como dizia Platão em um de seus diálogos: “As coisas mais difíceis são as mais belas”.
Em suma, começar algo é quase difícil. Muito pior ainda é não começar algo por simples receio de achar difícil. Para isso, passaremos adiante para referências sérias, baseadas em critérios com o grau de relevância acadêmica e social, bem como o foco textual foi definido.
Referências básicas para iniciar estudos em filosofia política
Advertência do autor: Ninguém pensa exatamente igual a ninguém. Cada ser é único e, portanto, tem de ser autônomo de si. Entretanto, a seleção das obras foi escolhida para uma melhor didática e melhor capacitação ao assunto. Não é um manual “rígido” – e nem pretende ser. O corpo da Filosofia Política é amplo e nunca unânime. Não se trata de um “curso” de formação militante e um “manual de doutrinação” (pois para isso temos as igrejas e a mídia).
Segue algumas obras clássicas e primordiais como referência de leitura para iniciantes, com breves comentários introdutórios.
Mais obras sobre o tema, caso queira se aprofundar:
• ALTHUSSER, Louis – Ideologia a aparelhos ideológicos do Estado.
• BORON, Atílio. – Filosofia política moderna. De Hobbes a Marx.
• BUARQUE, Sérgio – Raízes do Brasil.
• CHÂTELET, François, DUHAMEL, Olivier, PISIER-KOUCHNER, Evelyne – História das Ideias Políticas.
• KROPOTKIN, P. – A conquista do pão.
• FEUERBACH, Ludwig – A essência do Cristianismo.
• LUKÁCS, György – Historia e consciência de classes.
• LUXEMBURGO, Rosa – A acumulação do capital.
• MARX, Karl – 18 Brumário de Luis Bonaparte.
• SOUZA, Jessé de – A ralé Brasileira.
• RIBEIRO, Darcy – O povo Brasileiro.
• ROUSSEAU, Jean-Jacques – Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens.
• WEBER, Max – A Ética protestante e o Espírito do Capitalismo.
Contribuição de Jorge Caronte (sobre os autores).
Referências
[1] Encyclopædia Britannica – Plato
[2] Stanford Encyclopedia of Philosophy – Aristotle
[3] ______________________________________ – Niccolò Machiavelli
[4] CPD – REFLECTIONS ON THE THIRTY YEARS WAR AND THE ORIGINS OF PROPAGANDA
[5] Stanford Encyclopedia of Philosophy – Baron de Montesquieu, Charles-Louis de Secondat
[6] Encyclopædia Britannica – Voltaire
[7] Swiss Info – Rousseau finally becomes Swiss
[8] US National Library of Medicine National Institutes of Health – Friedrich Engels: Businessman and Revolutionary
[9] O Globo – Vendas do ‘Manifesto comunista’ disparam no Reino Unido
[10] Encyclopædia Britannica – Antonio Gramsci
[11] Anarkismo,Net – Istvan Meszaros and the “Withering Away of the State”: Review of Istvan Meszaros, “The Necessity of Social Control”
[12] Boitempo – István Mészáros